É a vida, né? - parte 2

por Misha Gibson, que gosta de observar a vida como a um prisma

171 Todo Dia

Terça, 14 De Abril De 2015 ás 06:00

É a vida, né? - parte 2

É a vida, né? - parte 2

Minha vida parece um fracasso. Logo, logo, vou sofrer da crise dos 40 anos. A faixa de gaza da idade está logo ali, a alguns passos. Do outro lado, estão o medo do futuro e a proximidade da morte. Ah, não estou sendo fatalista. A morte pode não ser minha, como ficam as minhas pessoas queridas que são mais velhas que eu? Eu tenho pavor em pensar minha vida sem essas pessoas. O que será de minha própria velhice sem amparo?

Além disso, minha vida profissional parece ter estacionado. Não é ruim, mas é aqui mesmo que planejava estar nesta idade? Cadê a mulher poderosa que devia estar aqui?

Minha vida familiar também merece atenção... Meu pequeno já não é tão pequeno, mas ainda não reflete bem aquilo que eu achava que deveria ter compreensão. A imaturidade dele é ônus da educação que eu (não) dei?

Ah, você vai dizer que a minha vida sentimental então deve estar a mil! Solteira, com carro, a cidade deve ser minha toda noite! Só que não. Eu não sou de sair muito, não curto baladas agressivas do tipo madrugadas ouvindo a mesma música insistente no tum-dis-tum-dis ou qualquer funk da parada de sucessos do momento. Então, apesar de estar solteira, não tenho vida louca de bar em bar. E, definitivamente, sempre fui de poucos relacionamentos amorosos.

Ah, a vida seria pior sem os amigos. É, realmente, minha vida seria uma chatice sem fim sem meus amigos. Os meus amigos de faculdade estão mais bem sucedidos que eu, já estão casados e com suas casas. Meus amigos de trabalho, mais novos que eu, tem uma disposição para todas as coisas muito maior que a minha. E os amigos novos que gostaria de manter em minha vida para sempre, acham que o para sempre termina em 2 minutos.

O Paulo me falou do "É a vida..." e eu fiquei pensando nesse meu discurso acima, de como a minha vida é bacana.

O fato é que isso é apenas um lado da verdade. Não é que sejam mentiras, mas é um modo de ver a minha vida. Eu ainda posso descrever a minha vida como uma sucessão de fortuitos acontecimentos: Eu sobrevivi a pior forma de meningite aos 4 anos de idade; eu podia ter morrido com uma apendicite aos 12; eu poderia ter ficado tetraplégica, sem memória, sem falar e ouvir aos 22 anos por um atropelamento de bicicleta. Eu poderia ter sucumbido a uma depressão profunda com o fim do meu casamento. Ou com o sabido noivado do homem que eu mais amei na vida.

Eu ainda celebro a felicidade de ter meu filho como companheiro. Ele cresce cada dia mais esperto, no sentido mais malandro da palavra. E fico feliz por ele ser mais tranquilo do que eu sou. Eu tenho amigos que ficam na minha vida. E tive amigos que fizeram parte dela e que hoje são parte de mim. Existem pessoas que sentem a minha falta.

É um jeito colorido - e podem achar que é colorido demais - de descrever o meu caminho até aqui. E, bem da verdade, também é apenas uma versão de mim.

O meu copo é meio cheio, sim. Tenho muito mais sorte do que azar. O que acontece, como com a maior parte das pessoas, é que nunca estamos contentes com aquilo que conquistamos, mas sempre estamos querendo alguma coisa a mais. Isso não é exatamente ruim. Enquanto existir o querer, existe a força de continuar a puxar o carrinho da vida. E não é porque ainda não encontrei o senhor perfeito-para-mim, ou porque eu não estou onde achava que estaria, que eu me acomode com a vidinha-de-letra-minúscula. Eu estou curtindo a visão enquanto olho. E se eu não me mexo de acordo é porque eu ainda não senti necessidade de sair correndo, é pura preguiça. E isso, sim, é a vida, né? É o que se tem a lamentar... (>.<)

PS: Paulo, a gente não escreveu o texto a 4 mãos, mas escreveu. (~.o)


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