Ecoturismo

por Misha Gibson, que gosta de natureza

171 Todo Dia

Terça, 14 De Agosto De 2018 ás 06:00

Lembranças do PETAR e da Caverna do Diabo

Lembranças do PETAR e da Caverna do Diabo

Sou urbana. Gosto da cidade, de admirar construções, de andar em metrôs e trens, de ficar em hotéis confortáveis com ar condicionado e água quente. Cada ano que passa, tenho certeza de que preciso de uma cama acolhedora no fim do dia. Mesmo assim, encarar a natureza, fazer trilhas e voltar coberta de terra pode ser muito prazeroso. Foi o que descobri nessas férias com meu irmão querido e o pequeno a tiracolo.

Visitamos o PETAR, Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. Conhecemos as cavernas e fizemos trilhas. Entrar nas águas geladas das cachoeiras é uma experiência única. Incrível como a interferência humana em lugares assim pode ser controlada e manejada para causar mínimo impacto. E ainda ser extremamente aventureira, esportiva e divertida acima de tudo!

Não vou negar, as trilhas foram testes duros para minha condição física. Talvez apenas a aula de karatê tenha exigido tanto das minhas pernas do que as subidas e descidas das montanhas da região. Mas o desconforto com o suor, o calor, as roupas (calça, sapato fechado e blusas de meia manga são obrigatórias), o capacete de segurança, os mosquitos, a sujeira, a falta de jeito da trilha e o cansaço de nada atrapalham a exuberância e a força da natureza. Ao fim do dia, era chuveiro de água quente, jantinha de comida quente e cama. As vezes uma rede contemplativa. Internet era raridade, e vou contar, não senti muita falta não.

E foi muito interessante notar que seja na paradinha para respirar antes de retomar a trilha, ou na caverna escura, ou na caverna iluminada a luz elétrica, apertada ou grandiosa, a sensação de pertencer ao mundo, de fazer parte do sistema é muito forte. Embora eu estivesse acompanhada durante os passeios, o encontro comigo mesma foi o que mais me impressionou. O que foi aquilo de passar por dentro de uma figueira gigantesca ou encarar o meu medo de altura em uma ponte suspensa acima do rio?

Descendo o paredão da entrada da caverna ouro grosso, eu senti medo. Abaixo de mim só tinha breu e pedras soltas, mais o som do rio passando. Acima de mim só o vazio da abertura da caverna. E se eu pisar em falso? E se eu escorregar? E se eu pisar no lugar errado? Me agarrei a algumas rochas como se elas contivessem a minha vida nelas. E ao chegar no fundo da caverna, olhar para trás e ver o percurso inteiro e a luz natural que incide da abertura é como que se entendêssemos que é preciso o passado para chegar no presente.

Já na caverna alambari de baixo, com água até o pescoço, não consegui não pensar nos meninos da Tailândia que passaram tantos dias na caverna escura. Agonia. Uma certa crise de depressão foi quase inevitável nessa hora, uma sensação de apertamento, como se a caverna fechasse o coração, confesso que em alguns momentos achei que me deixaria ficar lá. E adrenalina também, sabendo que esta caverna tem saída e que logo o sol estaria nos olhos. Desafio impressionante. Bem que o guia avisou que era que essa caverna é como um rito de passagem.

Na caverna do diabo, a ação humana é visível. No começo dá até uma tristeza ver a natureza tão mexida, depois de ver todas as outras cavernas tão mais bem preservadas. Mas, a grandiosidade da caverna é tão impactante que cheguei a ter pânico e quase esqueci da tristeza. Me senti um grão de areia. É impossível ver tamanha grandiosidade e não imaginar a força que criou tudo isso. Nem imaginar que o nosso mundinho não tão -inho assim, nem imaginar o quanto o subestimamos.

Energias quase 100%; vamos de novo. 


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