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Algumas semanas atrás soube que Hugh Laurie viria ao Brasil para alguns shows com sua banda. O que deve ter ocorrido na semana passada. E, na mesma semana que soube desta notícia, soube que Eddie Vedder viria ao Brasil fazer seu show solo, no começo de abril. Queria desesperadamente ir aos dois shows. Já sabia que não poderia ir aos dois e tentei fazer uma escolha da qual não fosse me arrepender amargamente.

Fiz contas, muitas contas. Sair de Campo Grande, ir até São Paulo, comprar ingresso. Passei dias de completo desespero por perder um dos dois shows. Conversei com amigos, revi meu orçamento. E, no fim de nenhum dos dois shows coube no meu bolso. Fiquei desolada. Escrevo estas linhas ainda sem saber como serão os shows, se algum dia eu poderei ver os dois ao vivo, ou se terei condições de procurar saber se vou me arrepender amargamente de cometer uma loucura para ir a pelo menos um deles.

E eu, que escolhi voltar a Campo Grande depois de anos morando em outros lugares, quis maldizer a terrinha. Estava pronta  a dizer que não temos eventos culturais o suficiente, que para ter algum prazer cultural temos que ir para outros estados, que quando as coisas acontecem aqui, temos que pagar um preço absurdamente caro, tão ou tanto mais caro do que ir para outro lugar para atender aos chamados culturais. Bem, quem é que pode recriminar? Alguma razão eu tenho, mas hei de convir, não é para tanto.

Alguns dias depois de a revolta começar a tomar corpo em mim, me deparei com o anúncio: Show do Almir Sater no Parque das Nações. De graça. Comparando com os dois artistas internacionais, o músico da terrinha poderia soar como uma diminuição significativa do meu controle de qualidade. Mas, qual o quê? Almir Sater é um músico excepcional, e apesar de já ter assistido várias apresentações, poder vê-lo novamente e sem pagar nada além da gasolina é um privilégio. Instantaneamente,  meus ânimos acalmaram e decidi que deveria ganhar um prêmio por não reclamar.

O show previsto para as 16 horas de um domingo foi um ótimo pretexto para sair de casa. Levei o pequeno comigo, pois é preciso começar a apreciar coisas boas desde cedo. Os artistas que se apresentaram antes, eram totalmente desconhecidos para mim. Peço desculpas por não mencionar o nome deles. O fato é que estava esperando apenas o show do Almir. Mas, a espera não foi de todo má, conseguimos nos divertir olhando as figuras que apareciam na praça: um artista com uma bola se exibia, tirando a camisa fazendo embaixadinhas e sem deixar a bola cair; as pessoas dançavam os sambinhas; o pequeno conheceu algumas crianças com quem brincou para passar o tempo.

Quando o Almir entrou no palco, após os discursos da classe e personas que ofereciam o show à população, já era noite. E só posso dizer que valeu a pena. Ele foi extremamente gentil, perguntando ao público o que queriam que ele tocasse. E 'Tocando em frente' foi cantada em uníssono. Fiquei completamente realizada ao assisti-lo, embora eu quisesse ouvir 'Rasta bonito' e não consegui. A simplicidade dele é arrebatadora e estar ali, vendo tantas pessoas num mar de gente para ouvir um artista tão pleno me deixou com orgulho. Orgulho de poder partilhar daquele momento, orgulho de ver que o povo brasileiro gosta, sim, de cultura e atende os eventos se tiver a oportunidade e acessibilidade de ir. Orgulho de poder ser mais hipster e menos consumista. Orgulho de poder me divertir mesmo nas adversidades.

É claro que eu vou sentir muito ainda não poder ir aos dois shows que tanto sonhei. Mas, saber que é possível ter minha parcela de cultura na cidade que escolhi morar é mais gratificante do que gastar o que não posso só para dizer que fui.

E vivam as oportunidades! E viva a cultura! E viva o saber aproveitar.