Fica a dica

por Misha Gibson, que gosta de dicas

171 Todo Dia

Terça, 12 De Dezembro De 2017 ás 06:00

Fica a dica

Fica a dica

Eu sou meio devagar para entender as coisas. Pelo menos as que acontecem comigo. Quando eu acho que não tem nada acontecendo na minha vida, é quando geralmente estou perdendo algum detalhe. Então fica a dica: eu preciso de sinais mais claros quando você quer me dizer alguma coisa.

Não é assim? A gente fica tão perdido olhando para nossos umbigos que perde algum detalhe, alguma informação. Já percebeu quando está assistindo um filme, naquelas cenas mais paradas, e que parecem nunca terminar, sempre tem uma informação vital para o enredo. Ou é um item vermelho, ou é o arrepio, ou é o frio repentino. Sempre existe uma indicação para o susto, o segredo, o clique magistral. Hoje eu tive uma epifania.

As pessoas tentam me olhar, tentam fazer contato comigo e eu, sem saber e sem querer, perco alguma coisa, não sei. Eu nunca presto muita atenção, estou sempre absorta em algum outro pensamento. Talvez eu tenha me desacostumado com os grandes momentos das novelas, eu sempre perco a fala.

Mas é que eu preciso de mais do que um ‘oi’ para entender um carinho. Eu preciso mais do que um ‘esquece’ para entender o não. E eu preciso muito mais do que um olhar para entender o sim. Eu preciso de braços descruzados, preciso de mãos sem lugar aparente. Preciso de um certo desconforto, preciso de um lugar errado e uma hora certa. E eu preciso de mais ações do que desejos.

Sabe a lei da inércia? Isso vale para mim. Eu não faço nada sem que tenha certeza. Eu fico ciscando, rodeando, só apareço por assim dizer, quando convém aparecer (salve, Renato Russo...!). Mas, eu não vou além se não sou chamada. Eu preciso de convites, preciso de certezas, preciso de portas escancaradas. Eu gosto de espiar pelas frestas, mas eu não sou ventania para abrir portas. As ventanias passam e vão-se embora. Eu tendo a ficar.

Eu preciso de portas trancadas, caras amarradas, silêncios sepulcrais, olhos no chão para entender que não existe nenhuma fagulha de esperança. Eu preciso do concreto armado. Eu preciso de uma muralha para não invadir.

Por favor, quando vier falar comigo, venha de olhos nos olhos, de braços descompromissados, de riso solto e grandes acenos. Esteja aberto para que eu baixe minha guarda. E me provoque para que eu deixe meu umbigo.


171 Todo Dia

Três amigos se revezando, a cada semana, para mostrar o cotidiano de um jeito absolutamente normal.

E-mail: 171tododia@gmail.com

Av. Afonso Pena, 2440 • Centro Empresarial Afonso Pena

11º Andar - Sala 112 - Centro • CEP 79002-074

(67) 3384-6571

(67) 8135-0202