Fora da caixa

por Misha Gibson, que teme que pensar fora da caixa a faça querer voltar pra caixa.

171 Todo Dia

Terça, 30 De Setembro De 2014 ás 06:00

Fora da caixa

Fora da caixa

Sair da caixa, pensar além do que nós acostumamos a ver e saber. Essa é a ordem da vez. Tenho tomado isso tanto no trabalho quanto na minha vida pessoal. Isso não deve se tornar um texto de auto-ajuda, eu não estou defendendo que todos devam fazer o mesmo. Só gostaria de compartilhar aqui meus pensamentos nesta difícil tarefa de ver além do que se vê.

No trabalho, muitas vezes nos tornamos reféns do processo. Deixamos de pensar para fazer. Ficamos tão acostumados e maquinados a realizar nossas atividades que muitas vezes ignoramos os erros, quando poderíamos concertá-los rapidamente se tivéssemos prestado atenção em primeiro lugar. Vivo isso todos os dias. Existe sempre uma outra maneira de se fazer a mesma coisa. É por esta razão que somos pegos de surpresa a cada novo erro encontrado, a cada nova descoberta sistêmica. Pensar de outras formas serve para identificar os modi operandis, ou os milhares de produtos cartesianos das possibilidades. É assim o dia de quem trabalha com sistemas.

Já do lado pessoal, as possibilidades são outras. Quando a gente se arrisca, ou quando a gente pensa de uma maneira não habitual, consegue perceber as minúcias de um mundo paralelo que poderia ser seu. Naquele minuto em que a gente reúne toda a coragem para fazer diferente, falar ao invés de calar, calar ao invés de responder, afagar no lugar de bater, acordar ao invés de dormir, todo um curso de caminhos se abre sob nossos pés. E o que esperar destes novos caminhos, senão o inesperado?

A recompensa pode ser um sorriso a mais, um desejo realizado, um sonho cumprido, um novo conhecimento, uma nova lição, uma lágrima quiçá. De todas as recompensas, nenhuma é desperdício, nenhuma é digna de arrependimento. Arrepende-se mais quem vive com o 'e se' - os caminhos não trilhados. Mas saber-se escolhedor do caminho, o dono da decisão, aquele que se responsabiliza, é sabor melhor do gozo de viver, ainda que a ciência do que poderia ter sido perdure.

O meu raciocínio me leva a crer que nada há do que se arrepender. Que tudo vale a pena se a alma não é pequena, como antes já havia me dito Fernando Pessoa. E embora seja o clichê dos clichês, quanto mais clichê maior a chance de ser verdade, nada me consola. Nada é capaz de parar a dor das consequências não previstas de um ato de coragem. É muito triste ver uma oportunidade tão boa indo embora, e eu sinto a autocomiseração de mais uma tentativa se esvair pelos meus dedos.

Talvez, o que exprima melhor a frustração, seja a dor de erguer a mão para o outro dar a mão, quando a sua fica lá, vazia, convidativa e eternamente esperando. E ato maior de compreender que o outro também precisa pular do precipício, precisa comprar a briga, precisa estar lá. E muitas vezes a sua mão permanecerá vazia. É triste, mas não é de se exasperar. Quantas mãos estão esperando para você dar a sua? Você as reconhece? Pensar fora da caixa também pode significar levá-las em conta. E quantas outras novas possibilidades surgiriam se você as aceitasse?

Não sei se o caminho que sigo vai me levar a outra ponte ou se vou encontrar uma muralha sem portas. Se, ao menos a muralha possuísse um buraquinho começado, talvez houvesse uma chance de cutucar pra espiar mais por dentro. Mas a possibilidade tem de ser apresentada também, às vezes não adianta marreta. Quem sabe, quem saberá, o que a engenhosidade pode me fazer maquinar? Será que se eu encontrar a muralha vou querer insistir ou vou virar as costas e abandonar o mundo do lado de lá? E pensar fora da caixa me faria ir ou voltar? Contanto que outras possibilidades fossem visualizadas, haveria esperança na selva escura do não-saber. E se essas outras possibilidades estiverem escondidas, entrar ou não na escuridão? Medo é o que a coragem encontra fora da caixa...


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