Sozinhez e o dia dos namorados

por Misha Gibson, que acha o dia dos namorados desnecessário

171 Todo Dia

Terça, 10 De Junho De 2014 ás 06:00

Esses dias atrás meu amigo Paulo, esse que de vez em quando aparece aqui para falar suas coisas incríveis e sua visão deslumbrante sobre as coisas que nos cercam, disse-me que pareci melancólica. Talvez eu tenha mostrado o meu inconsciente de uma forma que nem eu sabia, ou talvez a visão dele tenha me motivado a fazer mais uma viagem introspectiva em mim mesma. O lance foi que de repente, me senti mais solitária do que de costume.

Eu não tenho exatamente um problema com a solidão. Gosto de estar sozinha, preciso de um espaço para apenas ser. Gosto de estar em minha companhia para escutar minhas músicas, escrever e ler. Gosto de ir ao cinema sozinha, tanto quanto gosto de ir acompanhada. Gosto de fazer compras sozinha, gosto de tomar café sozinha, até de comer sozinha. Gosto de ter tempo para mim, de fazer as coisas que gosto no meu tempo, sem ter que me apressar, sem ter que parar demais. Gosto do meu próprio ritmo.

Tem dias, no entanto, que eu tenho medo de estar só comigo. Tenho medo das minhas cobranças, tenho medo dos meus pensamentos e tenho medo das minhas conclusões. Tenho pavor de estar sozinha quando estar sozinha não é exatamente uma opção, mas a única opção. Ter alguém para apoiar uma decisão difícil é sempre melhor do que se isolar imperador de vontade e opinião únicas. O 'e se' fica sempre a espreita, sempre naquele momento de fraqueza, sempre naquela insegurança que nunca amadurece.

Sou daquelas pessoas que tem certeza de que para se estar com alguém é estritamente necessário, antes, aprender a estar só, a ser só, bastar-se. Mas, a proximidade da data mais temida para os solteiros, o dia dos namorados, é de fazer qualquer marmanjo barbado solitário chorar. É um bombardeio de casais apaixonados em todos os lugares que um ermitão convicto pode se convencer de que precisa urgentemente de alguém. Ora, não pode ser pecado ser feliz sozinho. E também não deve ser regra não ter um par. É claro que ter alguém para compartilhar é uma imensa alegria. Mas, calma lá, não é preciso atacar ninguém só para não ficar sozinho, como se fosse uma competição de quem é o mais capaz de arranjar um amor num jogar de cabelo, ou mostrando a canela.

A minha 'sozinhez' não é por não estar com aquele que amo, sei lidar com os meus amores secretos. Ela vem da consciência de quem sou, de onde estou e de onde vim. Meu caminho pode não ser único, existem muitas mulheres como eu no mundo, que trabalham e criam seus filhos e tem suas dúvidas e contam com muito menos do que eu tenho, mas quem veste meus sapatos sou somente eu. O caminho a traçar, o que gira ao redor do meu umbigo, o que eu vir a ser. Só eu sei. Ou não sei. E trazer apenas as borboletas no estômago além da vontade de descobrir, sem ter uma outra mão para buscar para me acalentar, sem poder comentar o caminhar, sem poder ouvir sobre o caminho (e de como ele parece diferente sob outros olhares) me faz mais solitária. Melancólico? Talvez. Talvez o Paulo tenha razão. Ou talvez eu esteja sentido mais pena de mim mesma do que o apropriado.

Então vou tentar preencher o balãozinho de ar quente no coração enquanto vou desejando um feliz dia dos namorados para você. Que o seu dia seja especial, que exista o sonho de alguém especial se te falta a pessoa especial neste momento, que você preencha o seu balãozinho de ar quente no coração para que outra pessoa também possa se aquecer com ele.

E chega. Diga ao motorista que eu quero descer, faz o favor...

"...
Só eu sou eu
Só eu sou eu
Além de mim não tem ninguém que seja eu

Vem cá, menina
Vem brincar comigo
Que outra criatura igual jamais nasceu
Vem cá, menino
Vamos lá, juntinhos
Ainda bem que a gente é
Você e eu

Você e eu
Você e eu
E cada um é cada um
E cada eu"
(incidental: Só eu sou eu, de Marcelo Jeneci)


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