''Marina – Temporal ou chuvisco''

Frederico Valente Engenheiro, foi secretário nacional de Saneamento Fausto Matto Grosso - engenheiro e professor aposentado da UFMS

Frederico Valente

Quinta, 28 De Agosto De 2014

''Marina – Temporal ou chuvisco''

''Marina – Temporal ou chuvisco''

Será mesmo forte a ventania Marina Silva? Analistas mais afoitos já dão como certa a eleição dela.

Realmente, algumas ondas são incontroláveis, vide Collor em 89, Zeca do PT em 98 e o Bernal em 2012. Começam a aparecer pessoas que a rejeitavam, mas, em função das novas circunstâncias, estão revendo posições. A própria Marina ajuda, colocando-se de forma diferente, mais paciente e pragmática, sem deixar de ser programática como ela está sempre reafirmando. Particularmente, acho que esse cenário tem grande probabilidade de acontecer e cabe ser analisado.

Confirmado o temporal, o que passa a preocupar é a capacidade de Marina para liderar o jogo político e ao mesmo tempo efetivar as principais mudanças que precisam ser feitas para o Brasil voltar a trilhar os caminhos do desenvolvimento, iniciado por FHC, continuado por Lula e paralisado por Dilma.

Estamos vivendo aquela sensação de que o Brasil até melhorou (mesmo nos momentos de turbulência internacional), mas está caminhando para a estagnação (agora num ambiente de recuperação econômica mundo afora). Essa sensação indica que pode avançar muito mais se houver uma troca geral do comando político que há tempos vem mandando no País e que se esgotou por si só.

Nesse caso, volto ao passado recente para uma nova comparação histórica. Itamar Franco foi alçado à Presidência com essas mesmas dúvidas, talvez até maiores, pois participava de um projeto que qualquer pessoa mais bem informada sabia o que viria, com o homem que “combatia os marajás”.

O acidente que vitimou Eduardo Campos, junto da eleição de Marina Silva, oferece ao Brasil uma nova oportunidade histórica à semelhança da que foi dada com o impeachment de Collor. Trata-se da possibilidade real da formação de um governo de coalizão, com a participação das forças políticas mais responsáveis do País.

Marina e sua Rede, o PSB e o PPS, formam um tripé que vem mostrando organização, modernidade e coesão, amplamente demonstrados nesse momento difícil. Todo processo vivido pela coligação, tanto na postura em relação à morte de seu líder maior, como na sua substituição, tem sido coerente e competente. A família Campos deu o tom por meio de declarações sensatas do irmão de Eduardo e de sua esposa, que poderiam aproveitar o clima emocional e, oportunisticamente, postular o lugar dele, ou mesmo de vice. Outro ponto forte deles é a proposição de uma “Nova Política” para o Brasil, conteúdo das falas de Eduardo Campos e Marina Silva, e que é o anseio maior da população brasileira, amplamente demonstrado nas manifestações de junho de 2013.

Para isso a nova presidente do Brasil terá que demonstrar capacidade e disposição para negociar com os adversários e com os diferentes setores da oposição, e vai precisar de grande competência para convencimento da sociedade a respeito das reformas econômicas e sociais. Em princípio, parece uma competência que Marina, sozinha, não tem, e nem Itamar tinha. Em uma coalizão bem articulada, Marina poderia dispor do apoio necessário para tanto e enfrentaria uma oposição menos radical, facilitando a governabilidade.

Por outro lado, existe a preocupação em relação ao que a Marina ambientalista pensa sobre o setor rural. Sobre isso, seu vice Beto Albuquerque já começou a trabalhar. Em entrevista, ao ser lançado para o cargo, disse: “Acho que tem muita gente que tem preconceito contra a Marina, talvez porque seja uma mulher, talvez porque seja uma mulher negra, mas sem ouvi-la. Tem muita gente que ouve os outros falarem da Marina e acha que o que o outro diz sobre a Marina é mais importante do que ouvi-la. Quem ouvir a Marina na campanha vai ver que há muitos preconceitos absolutamente despropositados”. Ela já disse também que cumpre o programa proposto pelo PSB.


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O momento e as circunstâncias são propícios a um governo de coalizão, e esse, talvez, venha a ser o principal legado construído e deixado por Eduardo Campos com a formação da terceira via. Mas Marina terá que entender e tratar cuidadosamente disso ao longo de toda a campanha eleitoral, pois pequenos deslizes podem azedar o clima e pôr tudo a perder.

Não vai ser tarefa fácil administrar tudo isso, o PT mesmo vai tratorá-la tão logo se confirme seu crescimento, mas o PSDB talvez não o faça, pelo menos foi isso que FHC sugeriu. Vamos acompanhar os acontecimentos.

Frederico Valente

Engenheiro, especialista em gestão pública, foi secretário de Estado de Planejamento

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