Pink Floyd The Wall: como os governantes gostam de manter a obra viva

André Floyd

Quarta, 22 De Fevereiro De 2017 às 12h02

Pink Floyd The Wall: como os governantes gostam de manter a obra viva

Pink Floyd The Wall: como os governantes gostam de manter a obra viva

Ontem publiquei no blog da Confraria Floydstock que Roger Waters pensa em executar The Wall na íntegra nos locais onde possivelmente o presidente americano Donald Trump construirá muros na fronteira com o México.

Parece que ainda que o baixista, vocalista e eterno líder e gênio floydiano quisesse aposentar sua obra mais peculiar, ele não conseguiria.

"The Wall" fora lançado primeiramente baseando-se no conceito de Waters, que vinha desde o disco antecessor do Pink Floyd, "Animals" se formando em sua mente, o de que pessoas constroem muros, barreiras entre sí, se referindo em um primeiro momento à sua relação pouco amistosa com seus fãs.

Obra pronta e lançada, o que se vira e ouvira foi algo bem mais amplo.

Com uma atmosfera largamente inspirada na Segunda Grande Guerra, onde perdera seu pai Eric, morto em Anzio na Itália, servindo a Sua Majestade o Rei George VI. Ali se daria o primeiro muro separatista na vida do pequeno Roger, eternamente separado de seu pai que mal chegara a conhecer.

                                                                       Rei George VI

Mais do que um simples álbum duplo, "The Wall" era uma senhora ópera-rock que ia além da política bélica e se emaranhava em questões psicossociais que contribuiam despausadamente para as construções de muros mentais internos, que segregam um ser humano do outro e do resto do mundo, caindo em abissal alienação. Tudo isso obviamente sempre vindo num pacote sistêmico de cima para baixo, avalizado por Chefes de Estado e seus partidos mantenedores dos padrões sócio-comportamentais, aqui em foco na grande Inglaterra, mas muito aplicável à diversas outras nações.

Que o diga a Maggie.

A primeira ministra à época, Margaret Tatcher fora contemplada. Uma personificação do modelo rígido bretão, é impossível não achar que a Dama de Ferro não tenha se sentido cutucada com canções tais como "Another Brick in The Wall (part II)", uma ferrenha e corrosiva crítica ao sistema educacional que vigorava na grande ilha do cachorro de costas, onde a criatividade era obscurecida pelo método cartesiano e massivo.

Tatcher caberia também no estereótipo da Super Mãe Protetora exposta por Waters na canção "Mother", como a Grande Mãe Saxã do inconsciente coletivo inglês, muito embora a nível consciente ele a tenha escrito direcionada à sua mãe, Mary, ser de pura rigidez.

                         Primeira-ministra Margaret Tatcher, a Maggie

Passa o tempo, a guerra fria se esvai e o muro de Berlim se vai. Dessa vez uma conotação positiva, ao invés de levantarem, derrubaram um muro.

Quem o prefeito chamaria para um grande espetáculo comemorativo na Potsdamer Platz, gigante praça da capital germânica: Roger Waters é claro. Para que ele teatralmente erga e derrube um muro gigantesco à frente de 300 mil pessoas, acompanhada de uma constelação de artistas.

                               Walter Momper, prefeito de Berlim em 1990.

Avancemos e chegamos a 2015, no contexto em que lá estava Roger Waters se utilizando de sua magistral obra para atacar o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e sua política dura ante ao povo palestino, chegando Roger a pedir o boicote de artistas à região, incluindo os nossos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, que soslaiaram das cartas enviadas pessoalmente pelo líder floydiano.

                              Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

E agora, 2017 e o presidente americano Donald "Big man, pig man" Trump parece não querer mesmo deixar Waters aposentar sua obra murada ao infelizmente criar um cenário propício para tal, tencionando levantar muros separando ostensivamente os Estados Unidos do México e simbolicamente de toda a América Latina.

                                                Donald "Big man, pig man" Trump

Seria correto passar dizer, ao invés de Estados Unidos da América, dizer Estados Unidos e a América ou mesmo sem a mesma.

Trump consegue ser pertinente tanto ao álbum "Animals" como a "The Wall" e dará muita inspiração para Waters escrever, gravar, lançar e tocar.

Roger Waters poderia declarar: Eu até quero deixar de executar "The Wall", mas os porcos não me deixam.

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