#EnsaioSobrePentelhos

Espero sinceramente que a revista da Nanda sirva de exemplo e que a Cláudia Ohana seja idolatrada

Comédia Sem Noção

Terça, 20 De Agosto De 2013 ás 09:50

#EnsaioSobrePentelhos

#EnsaioSobrePentelhos

Por André Luiz Alvez

Eu era comunista nos anos oitenta. Usava um bigode ralo e cavanhaque pontiagudo. Na verdade, um penacho ridículo. Não faltaram conselhos para que eu raspasse minha barbicha, gente desavisada que não sabia que todo camarada precisava de barba na cara para se identificar. Eu adorava ficar alisando meus pelos do queixo, alisava, fazia carinho, passava horas fazendo aquilo. Foi um tempo de sonhos. Pensava maravilhas sobre Cuba e sonhava com o dia que desembarcaria na baía dos porcos sendo saudado pessoalmente pelo comandante Fidel. Lia todo aquele bagulho comuna, escondido no quarto, sofrendo com os reflexos foscos de uma fraca luz de lamparina.

Tossia às vezes, mas acho que era mais por causa do charuto cubano que ganhei de um amigo paraguaio. Eu era um leitor atento. A única distração eram as revistas Playboy que colecionava debaixo dos colchões e morria de medo que minha mãe descobrisse. Eu sonhava com a Cláudia Ohana. A imaginava usando apenas um par de botas soviéticas e um gorro do Che. O resto seria comigo. Doce Cláudia. Curtia Marx, mas gostava mesmo de Trotski.  Trotski fugiu para o México e foi acolhido pelo casal Frida Kahlo e Diego Rivera. Frida tinha muito cabelo.

Você sabe o que é o Priorado de Sião? Sabe porra nenhuma. Vai saber agora que vou contar: Depois que desencanei com o comunismo, resolvi me voltar para coisas religiosas. Alistei-me como voluntário no Priorado de Sião. E fiz não por outra razão senão a de não ter absolutamente nada a fazer. Muita gente duvida quando digo isso, afirmam que o Priorado nunca existiu no Brasil, muito menos em Campo Grande. Mas posso provar, tenho fotos e sei a localização; ficava numa estrada de chão depois da lagoa da Cruz. O prédio foi demolido, mas ainda existem evidências, a mais relevante, jogada num canto, a navalha de ônix, talhada em madeira de lei e pontas extremamente pontiagudas, um dos símbolos da entidade. Essa navalha era usada nos rituais de admissão, nos quais, tanto homens quanto mulheres, eram totalmente depilados. Deixei-me depilar e depilei várias calouras (e alguns calouros também, eca!), função a qual fui designado pelo vigário geral de Sião, sujeito carrancudo que esqueci o nome, mas lembro que fedia a mijo e mandava em todo mundo. “Tome!” – disse ele apontando a navalha em minha direção na frente de todos. “De hoje em diante, você está consagrado ao cargo de arranca pentelhos mor da congregação.”  E eu cumpri a minha missão com total dedicação.

A principal função do grupo de jovens do Priorado de Sião - comando Campo Grande - era combater os adeptos das outras religiões. Naquele tempo os evangélicos eram a imensa minoria, quase não apareciam, eram tidos como loucos, irrelevantes. Não demos a menor importância a eles. Dos espíritas tínhamos medo, principalmente da ala macumbeira. No único embate, levamos pau. Uma pomba gira me deu um carreirão aos berros de “vem aqui, pega na minha Ohana, pega!”. Sobrou para os Hare Krishna. Pobres coitados. Apanhavam doídos e mesmo assim continuavam com aquela maldita canção, “hare, hare, hare” e batíamos pra valer, sem dó, tome infeliz, cale essa maldita boca!

Particularmente, eu sentia muita raiva dos Krishnas porque minha principal função era arrancar pelos e os filhos da puta eram todos carecas.  Depois de dois anos de total dedicação, quando já manejava como um profissional minha navalha e não deixava um fio de pentelho em pé, fui sumariamente demitido porque confessei ao vigário que achava muito feio a depilação feminina. Expus minhas razões, a principal: que iniciava dentro de mim certo receio todas as vezes que me via diante de uma vagina depilada.

Fui sincero na minha confissão: É feio e mete medo. Sem a proteção dos pentelhos, não sabemos onde começa, onde termina e o que tem por dentro. Se nossos ancestrais se depilassem, muito provavelmente a raça humana teria sucumbido. Não recebi sequer uma resposta imediata, mas a demissão sumária foi a demonstração fatal que reprovaram meus argumentos.

Desde então, me revolto com vaginas depiladas e carrego comigo suprema devoção por mulheres peludas. Então passei no vestibular pra veterinária na Federal e pra história na Fucmat. Pra total desespero de meus parentes, resolvi fazer história, que me dava mais prazer, sempre me senti atraído por personagens históricos.

Frida Kahlo deu para o velho Trotski. Como ela conseguiu dar para Trotski?

Trotski tinha sexo, era hétero e exalava desejos da carne que ninguém poderia supor. Rivera muito menos. Corneado por Trotski! Deveria ter se matado. Diego Rivera, por vingança, comeu a irmã de Frida. Cristina também tinha muito cabelo, era bastante parecida com essa atriz atual que saiu na capa da Playboy... Como é mesmo o nome dela?... Tempos modernos. Perguntei para o Google que respondeu na hora: Nanda Costa. A atriz Nanda Costa fez um ensaio sensual pra revista Playboy que está causando polêmicas.  Nanda não é um mulherão, é baixinha, olhos regalados, dona dos seios ligeiramente maior o esquerdo, perto da Ana Hickmann, por exemplo, nenhum homem notaria sua presença. Mas ela é muito parecida com Cristina, irmã de Frida Kahlo, inclusive pela boca sensual e os pelos pubianos em excesso. Bastou para ganhar minha admiração.

Em 1985, eu tinha vinte anos – ah, eu tinha só vinte anos – a mesma revista vendeu horrores com as fotos da atriz Claudia Ohana. Comprei a minha e até hoje guardo o exemplar – assim como guardo a da Nani Venâncio, Nádia Lippi, Luciana Vendramini, entre outras menos cotadas. Depois que me tornei adulto, parei com a coleção, a última que guardo é o da Alessandra Negrini. Não sei se por ironia, todas são peludas. Gosto muito.

Nanda Costa anda reclamando das reclamações. Acho que é jogada de marketing. A cada reclamação, duzentas revistas são vendidas.

A Cláudia Ohana fez vários filmes. Assisti a dois, só pelo prazer dos pelos, muito mais do que vê-la atuando.

Nanda Costa faz novelas. Eu não assisto novelas.

Cláudia Ohana também faz novelas, que não vejo mais, mas assistia tempos atrás, e assisti Vamp, na qual, a bela Ohana fazia uma vampira que eu deixaria sem reclamar morder meu pescoço e chupar todo meu sangue, desde que estivesse nua da cintura pra baixo. Eu só queria ver aqueles pelos de perto.

O termo “mão peluda” nasceu por causa de Cláudia Ohana.

Nanda Costa pretende reviver o movimento mãos peludas. Regiane Alves tentou antes, sem conseguir.

Espero sinceramente que a revista da Nanda sirva de exemplo e que a Cláudia Ohana seja idolatrada. Não participei da última manifestação pelas ruas do Brasil porque não tinha nenhuma reclamação a fazer. Agora tenho, já fiz até o cartaz: Basta às sem pelos. Mulher sem pelo não tem apelo. Queremos pelos, queremos Ohanas e Nandas!

Farei meu protesto com receios que seja em vão. As meninas de hoje devotam graças à depilação total e acho que serei uma voz perdida nas esquinas.

No desespero ligo a TV e vou mudando de canal. Em cinco de doze, aparece a mesma menina que se diz cantora. Logo estará pelada nas páginas da Playboy. Pobre de mim que não vejo nada de graça nessa tal Anitta e tenho a mais profunda impressão que ela é totalmente depilada.

E dá licença que vou ver se encontro minha revista da Cláudia Ohana. Devo ter deixado debaixo de algum colchão...

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