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O que é mudar um paradigma de mais de 40 anos?
Minha mãe nunca havia ido ao cinema sozinha.
Ela nunca, em tempo algum, pensou em um domingo à toa, que estava bom sair sozinha e ter uma experiência consigo mesma.

De certo, já teve vontade de assistir algum filme, um drama romântico, uma aventura louca, um suspense de roer as unhas. Mas a companhia lhe faltou. Meu pai prefere ficar em casa e dominar o controle remoto da tv. Se dar o trabalho de se trocar, escolher o filme, pegar o carro, ir até o cinema, e pacientemente aguardar o filme terminar é demais para ele. Não é mais fácil assistir o que está passando na tv? Pedir uma pizza?

Não. As vezes, o conforto do lar não é suficiente.
O ritual de sair de casa, comer alguma coisa diferente, sentar para tomar um cafezinho e assistir um filminho no cinema massageia o ego e alivia as tensões. É preciso espairecer e levar a vida menos no automático, menos a sério.

Então, minha mãe quis ir ao cinema. O pequeno queria ver outro filme, um que ela não iria gostar. Por sorte, encontrei uma sessão de um concorrente ao oscar deste ano no mesmo horário que o filme do pequeno. Não precisei me dividir em duas, assisti o filme com o pequeno e minha mãe assistiu o filminho dela sozinha.

Muito mais do que apenas assistir o filme sozinha, ela quis aprender a comprar o ingresso no totem, ela pediu sozinha para ensinarem a localizar a poltrona e o mais importante, ela aprendeu que é possível se divertir sozinha. As consequências deste feito estão ainda por vir, mas prevejo uma senhora mais atenta a novos filmes, uma companheira de cinema e uma pessoa mais independente. Quiçá um senhor menos rabugento e menos avesso a passeios.

O fim de semana também rendeu tempo para o meu tão aguardado Downton Abbey - o filme. Meu paradigma de adquirir filmes também foi quebrado. Comprei o filme online, assisti o filme online pela tv e até descobri como ativar as legendas e ouvir o áudio original. Um salve para assistir filmes com som original!!!

O filme foi um episódio maior da série, tirando um ponto esquecido ou outro. Mas, a ode às mudanças estava lá. O glamour estava lá. A fotografia espetacular estava lá. As personagens interessantes estavam lá. E o final feliz estava lá.

Duas coisas que me entristeceram ao ver Downton Abbey: a história acabou (com algumas oportunidades para voltar, mas acabou) e eu não assisti o filme no cinema. Sozinha. Com minha garrafa de chá gelado. Com uma porcaria qualquer para acompanhar. Eu não estava de chinelo. Não estava de vestido livre, leve e solto. Não fui comer um doce depois. Não passeei descompromissadamente. Findo o filme, eu desliguei a tv e procurei outra coisa pra fazer em casa.