Halloween, folclore e educação

por Misha Gibson, que atrasa, mas ainda escreve.

171 Todo Dia

Terça, 10 De Novembro De 2015 ás 09:27

Halloween, folclore e educação

Halloween, folclore e educação

Mês passado teve Halloween, que é comemorado dia 31 de outubro em países anglo-saxões. Nos países latinos, dia 02 de novembro é comemorado o dia dos mortos. Embora no Brasil, a comemoração de finados seja diferente de países como o México, agora (ok, não é bem de agora) é modinha ficar atacando quem curte festas de dia das bruxas. Sim, podemos dizer que o consumismo e a cultura americana são os fatores primordiais para o boom de festinhas e fantasias espalhados por todos os lados. Sim, podemos dizer que somos fortemente influenciados pela cultura que tem a a economia dominante e que isto acaba com as nossas tradições.

Ora, mas vejamos a história. Em todos os conflitos humanos, a cultura economicamente dominante sempre prevaleceu, quer seja pela força, dizimando a população derrotada; quer seja pela miscigenação e disseminação pelo povo preponderante. Não é óbvio que a cultura americana também seja amplamente adotada em várias partes do mundo? Não estou aqui querendo justificar a nossa perda de identidade cultural. Estou tentando apontar a nossa fraqueza cultural, tanto quanto educacional.

As nossas festas folclóricas estão quase extintas e quase totalmente suplantadas por outras culturas. Ou estaria eu muito apegada ao meio urbano? As nossas maiores expressões de folclore hoje são o carnaval e as festas juninas, amplamente divulgadas e exploradas. Infelizmente, o espírito cultural destas festas está sendo perdida entre a ganância e a adequação cultural para que turistas estrangeiros possam também consumi-las.

Por estas razões, não entendo o porquê dessa modinha de 'não vamos aderir ao Halloween' e do 'vamos comemorar o dia do saci'. E também porque eu nunca ouvi falar do dia do saci nem ouvi dizer que o dia dos mortos pudesse ser comemorado no Brasil como um dia festivo. O Halloween, vamos entender, não é o dia das bruxas. Apenas traduzimos a festa como dia das bruxas. Halloween é dia de todos os santos, uma festa cristã que serve como justificativa para a celebração celta do Samhain.
Claro, que atualmente o Halloween não tem mais nenhuma ligação religiosa e  a comemoração é totalmente pagã. Mas, também não é assim para as festas juninas?

O que fazemos para a fortificação de nossas raízes, a nossa identificação cultural? O que ensinamos como comemorações brasileiras aos nossos filhos? Natal, Páscoa, carnaval? É tempo de assumirmos que não temos uma educação que celebre a nossa nação. Conheço brasileiros que cometem menos erros falando ou escrevendo em inglês do que cometem em português. Conheço gente que assobia o hino americano quando se distrai, mas se recusa a beber cerveja importada. Conheço gente que acha normal que as árvores natalinas no Brasil sejam cobertas de neve. Não é hora de redefinirmos nosso sistema educacional?

Se é para incorporar a cultura alheia, que tal se incorporássemos também as coisas que valem realmente a pena? Que tal se os locais públicos fossem respeitados com limpeza e boa educação? Que tal se os a corrupção fosse vista como ato repugnante e merecedora de pena máxima? Que tal se a educação fosse vista como o problema primordial e não apenas um problema secundário? Que tal se parássemos de seguir modinhas contra a disseminação de festas importadas e fizéssemos estas incorporações culturais valerem a pena?

Esses dias, fiquei sabendo que uma escola americana tem um projeto interessante para ensinar as crianças a respeito dos lugares do mundo. As professoras pedem às famílias e amigos que mandem para a escola cartões postais de vários lugares do mundo para que depois possam identificar em um mapa-mundi de onde eles vieram. Que ideia incrível. E aí me deparei com outra diferença cultural que me deprimiu: nos Estados Unidos é comum ter cartões postais vendidos em encadernações nos museus e lojas de presentes. No Brasil, não sei nem mais onde os cartões postais com paisagens das cidades brasileiras são vendidos. 

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