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Bem, você pode pensar que eu vou falar sobre o acidente e que quero homenagear os que se foram. Você pode imaginar que eu quero falar sobre tragédias, acidentes e segurança aérea. Você pode também imaginar que eu vou falar do caso do pai que queria passar o seu aniversário com o filho, comprou uma passagem aérea para ele e o menino foi extraviado. E, em algum ponto do texto, eu vou comentar sobre tudo isso. Mas, eu realmente quero falar sobre coisas que estão no meio dessas confusões e tragédias contemporâneas.

Quando eu soube do trágico acidente do time da Chapecoense, dirigente e repórteres, fiquei entristecida, assim como fiquei entristecida com a tragédia do sumiço do avião Egípcio ou no acidente da Malásia. E, a princípio, não entendi muito bem a comoção que o acidente causou. Depois, refletindo sobre o ocorrido, lembrei do acidente do Ayrton Senna e de como tudo foi ostensivamente noticiado. A queda do avião da Chape foi uma tragédia por si só, por matar tanta gente, e porque era um time jovem, em ascensão - quase um símbolo de esperança. E eu acredito que foi tão noticiado e causou tanto impacto além da sua aparente causa - a falta de combustível - como também por representar um grupo de pessoas, que tinha um objetivo comum, que podemos chamar por um nome. E fico pensando como o mundo está carente de heróis, não apenas o Brasil.

Como explicar a nossa mórbida vontade de saber todos os detalhes do que aconteceu, ver o local do acidente, acompanhar os velórios se interessar pelas causas e problemas muito mais do que saber da evolução das pessoas que sobreviveram. A morte vende mais do que a vida, infelizmente. Mas, me incomoda saber mais sobre o acidente do que conhecer os rostos das pessoas que sobreviveram.

Não estou dizendo que não foi trágico, que o acidente não foi um acontecimento importante no ano. Mas, quantos acidentes tivemos no mundo este ano, inclusive no Brasil? Por que este causa muito mais dor do que qualquer outro que tenha acontecido? Eu me pergunto sobre esse tipo de coisa apesar de ter me emocionado com a dor de quem ficou.

Falando em desastres aéreos, como não classificar como desastre o caso do menino 'extraviado' em Curitiba? Como, em tempo algum, uma pessoa poderia ter embarcado erroneamente em um voo que não era dela? Não me interessa se os portões de embarque para os dois voos da mesma companhia eram um do lado do outro. Não me interessa se ele tinha 6 ou 60 anos - embora possamos conversar a respeito do serviço de acompanhante mais para frente - era mais um cliente da companhia que não deveria ter conseguido embarcar em outro voo para o qual não tinha uma passagem válida. Como fica a contagem de passageiros? Como fica a checagem de pessoas do voo? E o mais absurdo é que foi o pai que entrou em contato com a companhia aérea (com delegado da polícia federal) quando soube o que aconteceu e não o contrário.

Serviço de acompanhante de voo. Sério mesmo que a companhia aérea disponibiliza um serviço de acompanhante? Sinto muito, já vi crianças viajando desacompanhadas e garanto que não foi nenhum atendente segurando a mãozinha da criança durante o voo. O máximo que acontece é que a criança é levada até o salão de embarque e colocada num cordão de isolamento, suscetível a olhos maldosos, depois encaminhada para o seu assento e recepcionada após a aterrissagem do avião. Isso pode ser classificado como acompanhamento?  Para mim, isso no máximo é acompanhamento de checkpoints, milestones. Posso ser muito preciosista, mas como mãe, eu não me sinto confortável em ter um acompanhante que não acompanha o meu pequeno.

É isso. A gente tem muito a aprender com esses acidentes. Espero sinceramente que alguma coisa seja feita. Do meu lado, aprendi a ter (mais) medo de avião.